sábado, 5 de junho de 2010

Aproveitando a Sombra do Teu Preconceito

“Pode vir alguma coisa boa de Nazaré”? ’ Jo 1.46

Você já parou para pensar que na vida não dá nenhum trabalho nós olharmos para aparência das coisas? Não requer muito esforço de nós. Olhar para o aspecto exterior é muito fácil. Emitir alguns comentários sobre aquilo que nós ouvimos, lemos, vimos, sobre aquilo que nossos olhos esbarraram.

São as superfícies da vida. Essa é a parte mais fácil de ser enxergada, essa parte externa que nós encontramos com muita facilidade. Agora se você começa a pensar que a realidade é muito mais do que isto que seus olhos podem revelar, você começa entrar no mistério das coisas. É ultrapassar os limites das aparências, daquilo que é o dado natural, daquilo que nós podemos ver sem muito esforço. Mas a sabedoria de Deus nos ensina que todas as vezes que nós ultrapassamos a superfície da realidade, nós somos presenteados com o pensamento de profundidade, com aquele conhecimento que vai além do que os nossos olhos podem enxergar.

Ultrapassar o limite das aparências é verdadeiramente conhecer; sobretudo quando tratamos de pessoas. Quantas vezes você já teve uma opinião formada sobre uma pessoa com quem você nem se quer trocou uma palavra? Quantas vezes você emitiu um comentário sobre alguém sem ter dito um conhecimento verdadeiro daquela pessoa? Essa é a tentação de toda hora. É aquela sensação de que nós vimos, nós sabemos só porque um dia casualmente nós passamos pelo outro.

Preconceito é aquilo que vem antes do conceito, é aquilo que nós formulamos antes de verdadeiramente ter dito um contato com a realidade. Ter um preconceito com relação a alguém é acharmos alguma coisa antes de conhecê-la. O preconceito é sempre uma forma de prisão: Prisão para mim que acho que conheci e prisão para o outro uma vez que eu o coloco dentro do meu achismo: “Eu acho que ele é isso” e o aprisiono no preconceito que tive dele.

Jesus o tempo todo quebrava a regra dos preconceitos por uma razão simples: Jesus não sabia enxergar a margem, ele ia sempre além. Por isso Ele era capaz de convencer as pessoas de entrarem numa dinâmica de crescimento, de superação de limites, justamente por causa da sua capacidade de olhar com profundidade. Olhava para o pescador e enxergava o chefe da sua igreja, olhava para aquela pecadora envergonhada em público e enxergava a grande mulher que ela poderia se tornar, porque se Jesus parasse apenas na aparência das pessoas que Ele encontrou ao longo da Sua vida, não teria acontecido muita coisa. O Seu dom de enxergar com profundidade.

Você deve ter sido na vida muitas vezes vítima dos olhares apresados. Todos nós somos. E quanto mais vista é uma pessoa, maior é o número de preconceitos que existem em relação a ela e não há problema nisso. Não há problema em entender que o preconceito existe. O problema é quando nós permitimos que o preconceito do outro seja também o nosso. Ai nós incorremos no erro de repetir a história de maneira estranha, errada. Você deve ter sido vítima de muitos preconceitos e sabe o quanto dói na sua pele à pessoa achar que você é isso, achar que você é aquilo. Já sofreu na carne.

Então comece corrigindo os preconceitos no mundo deixando de achar sobre os outros e procurando, quem sabe, conhecê-los.

Ao invés de formular uma opinião a respeito daquela pessoa, dê-se o trabalho de uma primeira pergunta: Quem é você mesmo? Como é seu nome? Os grandes amigos da nossa vida entram a partir de perguntas simples. Quando nós quebramos aquela aparência, aquela margem, nós entramos então, na possibilidade de conhecer os avessos.

As costureiras quando compram tecidos elas não olham apenas a parte bonita do tecido, elas olham também o avesso e sabe por quê? A qualidade do tecido não é só a aparência dele. O que vai fazer o tecido verdadeiramente valer, é o avesso, pois ele é quem dá sustentação. A beleza só é verdadeiramente duradoura se ela tem um avesso que segura,

Sabe esses tecidos de carnaval que na primeira lavada vai embora? É porque não tem fibra de sustentação. É tecido temporário, é coisa para durar pouco. Os carnavalescos não fazem uma roupa de carnaval para usar o ano inteiro. Ela precisa durar apenas três dias ou no máximo um dia.

Há pessoas que fazem da sua vida a mesma lógica dos tecidos de carnaval, não se preocupam muito com as fibras de sustentação. Vão apenas na aparência do tecido – para naquele aspecto superficial porque estão muito preocupadas com que os outros estão vendo. Há pessoas muito bonitas que quando nós conhecemos podemos perceber que não se preocupam muito com as fibras de sustentação. Viveram artificialmente, foram preparadas para o artificial. Vivem de maneira artificial e por isso são tão infelizes, sobretudo depois que a “beleza foi lavada”. Passou o atrativo e só restaram às fibras frágeis daquilo que nunca sustentou.

Entrar na dinâmica e na mística dos avessos é pedir a Deus todos os dias a graça antes de nós cuidarmos da nossa exterioridade, de nós cultivarmos o mais profundo de nós. Esse lugar que os meus olhos não alcançam e que só poderão chegar à medida que nós nos conhecermos. Viver o cristianismo é viver o tempo todo a busca das fibras que nos sustentam para que se existir uma beleza, ela possa ser consistente e se não existir a beleza, pelo menos ela seja uma fibra resistente, de sustentação.

Todo tecido tem a sua validade, todo tecido tem a sua utilidade, a sua razão de ser. Não basta ser apenas bonito, precisa estar sustentado e essa é a busca da vida interior – nós chamamos de santidade, a Filosofia chama de sabedoria. O mais interessante é nós descobrirmos que na mística dos avessos há sempre a necessidade de tecer bem os fios que nos sustentam e que nos deixam de pé.

Hoje você é convidado a viver isto. Pode ser que você esteja muito acostumado a cuidar do seu artificial, da sua aparência, mas este texto quer ser para você um convite para pensar na sua sustentação, naquilo que te segura como pessoa, pois um dia a beleza vai passar, os livros que leu ficará empoeirados na estante, à utilidade das coisas irá passar e só restarão as fibras humanas dos seus valores, do seu sustento. É isso que vale a pena. Ter Deus na nossa vida não é outra coisa senão nós buscarmos o tempo todo tecer bem essas fibras para que quando chegar o tempo das passagens nós consigamos sobreviver, para que não venhamos sucumbir, para que não venhamos morrer antes da hora.

Pense nisso!

Regina Lopes

Nenhum comentário:

Postar um comentário